quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A repercussão dos aspectos psicológicos no tratamento de pacientes com Diabetes Melito.


A Diabetes Melito (DM) é uma doença crônica e progressiva que exige vários cuidados médicos constantes, cujos tratamentos necessitam de uma ação conjunta entre o paciente, a família e a equipe de saúde.

Em muitos estudos vêm sendo discutida a real importância dos aspectos psicológicos no cuidado do DM. Para viver bem com o DM, o paciente deve procurar desenvolver habilidades de enfrentamento, de auto-cuidado, e de atitude frente ao tratamento.Recentemente, evidências sugeriram que pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 freqüentemente apresentam comportamento psicológico alterado, podendo afetar o seu tratamento.

As tarefas referentes ao tratamento, que exigem uma habilidade individual do paciente, podem ser prejudicadas por problemas psicológicos e sociais, comprometendo o acompanhamento médico, o controle metabólico e conseqüentemente a qualidade de vida. A equipe de saúde deve estar constantemente atenta aos aspectos psicossociais de cada paciente. Por meio de questionários específicos, a percepção do paciente quanto ao DM pode ser avaliada.

Urge a necessidade de serem descobertas novas técnicas que minimizem o impacto pessoal e econômico desta doença, por meio da prevenção, detecção e tratamento eficazes. É necessária a investigação de barreiras emocionais e comportamentais ao efetivo tratamento da doença e sua relação com o controle da glicemia, colocando sempre como foco a pessoa, e não a doença.

Foram divulgadas recentemente, pela American Diabetes Association (ADA), as últimas recomendações sobre a avaliação e a assistência psicossocial necessárias para atingir um efetivo tratamento do DM. Na assistência psicossocial, a avaliação psicossocial foi considerada de extrema importância durante todas as fases do tratamento, devendo ser incluída nas rotinas, através de mensurações constantes acerca das atitudes a respeito da doença, das expectativas com relação ao tratamento e desfechos, das medidas de afeto/humor, qualidade de vida, recursos emocionais, sociais e financeiros e a história psiquiátrica. Se for insuficiente a adesão do paciente ao tratamento sugerido, deve-se analisá-lo quanto aos transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtornos alimentares e prejuízos cognitivos.

A avaliação do status psicológico dos pacientes e familiares pode ser feita em vários momentos , quando houver dificuldades em lidar com o tratamento ou com diminuição na qualidade de vida,durante o diagnóstico e as consultas regulares, em hospitalizações ou no surgimento de complicações da doença. Em qualquer momento do tratamento, o paciente pode estar vulnerável psicologicamente. No entanto, deve-se dispensar especial atenção ao período do diagnóstico ou quando o status médico se altera, por exemplo, no final do período conhecido como lua-de-mel em pacientes com DM1, quando a necessidade de intensificar o tratamento torna-se evidente ou ainda quando surgem as primeiras complicações da doença.

Pesquisadores desenvolveram, nas últimas décadas medidas de avaliação com o objetivo de aumentar o entendimento dos fatores que intervém na eficácia do tratamento do DM. Para a avaliação dos aspectos do bem-estar subjetivo dos pacientes com diabetes, foram desenvolvidos alguns instrumentos, como escalas, que se diferenciam em focos de atenção e conteúdos específicos.

Apenas três questionários validados, no Brasil, avaliam questões específicas do diabetes. O Diabetes Quality of Life Measure (DQOL-Brasil), desenvolvido pelo grupo do Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) para adolescentes e adultos com DM1, mas depois foi também utilizado com DM2. Uma versão para crianças, Diabetes Quality of Life for youths, também foi desenvolvida e validada no Brasil.

Os aspectos psicológicos mostraram influenciar, em pacientes com DM1, não só o controle glicêmico, mas também a prevalência de complicações microvasculares, em especial a associação da Retinopatia Diabética (RD) com a depressão (HAD Depresion 8). Também foi encontrada a associação significativa entres os scores de resiliência e as medidas de depressão, ansiedade, transtornos alimentares e problemas emocionais relacionados ao diabetes.

Pacientes com DM2 também apresentaram sintomas de ansiedade e depressão freqüentes, podendo influenciar nas complicações microvasculares, principalmente em relação às associações entre o sofrimento emocional relacionado ao diabetes e a RD e Nefropatia Diabética.

Pelo fato do DM1 e do DM2 possuírem etiologia e tratamento distintos, as influências psicológicas também tendem a serem diferentes. As avaliações e as medidas devem considerar aspectos como a idade do início da doença, a etapa do desenvolvimento, o status social e intelectual e o tipo de tratamento.

Logo, surge a necessidade de serem feitos estudos que possam determinar as características psicossociais dos pacientes que conseguem atingir um bom controle da glicemia. Para isso, faz-se necessário o conhecimento das vulnerabilidades, das comorbidades psiquiátricas, da adesão e da qualidade do tratamento, além dos fatores positivos e das potencialidades de enfrentamento da doença.


Referência:
http://www.lume.ufrgs.br/

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